Edição Especial da Revista Economia e Sociedade - Wilson Cano, um farol contra o crepúsculo

revista Economia e Sociedade, do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (IE/Unicamp), foi fundada no ano 1992, tem se consolidado como revista científica de referência na área de economia e busca a excelência acadêmica e o amplo uso e impacto social dos trabalhos publicados. O objetivo da revista, desde sua fundação, tem sido contribuir para o desenvolvimento da reflexão crítica em temas de amplo interesse nas áreas de teoria econômica, economia aplicada (nacional e internacional), história do pensamento econômico e história econômica, acolhendo a produção heterodoxa inspirada, sobretudo, pelas tradições de Marx, Keynes, Kalecki e Schumpeter, bem como pela reflexão latino-americana sobre o desenvolvimento econômico.

revista completou 29 anos em 2021, publicou 72 números regulares e três especiais: o primeiro em dezembro de 2008, publicando contribuições de alguns participantes do Primeiro Encontro da Associação Keynesiana Brasileira (AKB), realizado no IE/Unicamp; o segundo em dezembro de 2012, para comemorar os 20 anos da revista, publicando artigos acerca da problemática do Desenvolvimento e desenvolvimentismo(s) no Brasil; e o terceiro em dezembro de 2017, publicando contribuições de alguns participantes do Seminário Internacional “Financeirização e Dinâmica do Capitalismo Contemporâneo”, realizado no IE/Unicamp.  

A presente edição da revista Economia e Sociedade presta homenagem ao professor Wilson Cano (1937-2020), e conta com a colaboração dos editores convidados Fernando Cézar de Macedo e Fábio Antonio de Campos, ambos professores do IE/Unicamp e pesquisadores do Centro de Estudos do Desenvolvimento Econômico (CEDE), centro organizado e estruturado pelo professor Wilson Cano que, através de um conjunto de pesquisas individuais e coletivas, coordenou formalmente suas atividades desde o início do anos 1990.

O professor Wilson Cano foi cofundador do IE/Unicamp e professor dessa instituição desde sua origem. A vasta obra do homenageado transita por diferentes áreas das Ciências Econômicas (Desenvolvimento Econômico, Desenvolvimento Regional e Urbano, História Econômica, Política e Planejamento Econômico, Economia Internacional e Setor Público), e está direcionada principalmente para análises das economias brasileira e latino-americana.

Herdeiro e um dos principais intérpretes do pensamento estruturalista que se formou a partir da CEPAL, Wilson Cano foi um pensador do Desenvolvimento Econômico. Não por acaso, ministrou essa disciplina na pós-graduação do IE até o final de sua vida. Intelectual genuinamente brasileiro e economista crítico, Wilson Cano manteve, sem concessões, compromisso com a luta pela superação do subdesenvolvimento brasileiro, só possível, para ele, por meio de um Estado autônomo capaz de estabelecer políticas soberanas que libertassem o país da dependência externa imposta pelo imperialismo.

Sua produção acadêmica coloca-o como um dos destacados estudiosos do Brasil nos últimos cinquenta anos, especialmente sobre a questão regional e urbana, área em que formou parcela majoritária dos pós-graduandos que orientou. Seus trabalhos são recorrentemente citados por pesquisadores de diferentes áreas, o que indica seu alcance para além da Economia.

As mais de cinco décadas em que se dedicou à docência e à pesquisa foram marcadas pela formação de estudantes. Sempre avesso aos modismos escolásticos que insistem em separar economia da política, ou da lógica neopositivista do survey cada vez mais referenciada por modelagens matemáticas nas ciências econômicas, Wilson Cano entendia a fundo o significado da palavra formação ante o servilismo acadêmico. Daí sua coragem em defender sonhos cada vez mais difíceis em sua travessia de intelectual público. O formar alunos para nosso homenageado era pavimentar o futuro de jovens cientistas sociais que tivessem como raiz, por meio da rigorosa pesquisa, o compromisso ético com a superação do subdesenvolvimento, e não apenas com o currículo.

Desse modo, um projeto social de transformação estrutural da civilização brasileira estava sempre inscrito na totalidade da práxis do nosso Professor. A soberania era pensada por Wilson como a construção de condições republicanas de independência real para a reprodução material e cultural dos brasileiros e seus irmãos latino-americanos, assim como o desenvolvimento estava muito além do crescimento econômico em si, visto que ele só fazia sentido subordinando o potencial produtivo brasileiro aos desígnios democráticos de uma sociedade justa, sem segregação social.

Os artigos que compõem este número especial dialogam com a vasta obra de Wilson Cano e refletem a diversidade temática trabalhada pelo homenageado que pode ser sintetizada no trinômio Soberania-Desenvolvimento-Sociedade, pensado e articulado em seus escritos em múltiplas escalas, por meio do fio condutor da história econômica.

Carolina Troncoso Baltar (Editora-chefe), Fábio Antonio de Campos e Fernando Cézar de Macedo,

Boa leitura!


Acesse a edição especial da revista aqui
: https://www.eco.unicamp.br/economia-e-sociedade/vol-30-numero-especial-out-2021