Autor: Tote Nunes | Fotos: Antonio Scarpinetti | Edição de imagem: Paulo CavalheriDo Jornal da Unicamp
 

O Conselho Universitário (Consu) da Unicamp aprovou por unanimidade, na manhã desta terça-feira (27), a concessão do título de professor emérito ao economista Luiz Gonzaga de Mello Belluzzo.

Formado em Direito e Ciências Sociais pela USP, Belluzzo cumpriu importante papel no início do processo de instalação do Instituto de Economia (IE) da Unicamp.

Considerado um dos melhores economistas heterodoxos do Brasil, Belluzzo é lembrado por ser um dos responsáveis pela articulação da autonomia orçamentária das três universidades estaduais paulistas – mecanismo que garantiu investimentos regulares e deu o suporte para o desenvolvimento das instituições. Belluzzo era o secretário da então pasta de Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo, quando da publicação do decreto da autonomia, em 1989.

A proposta de concessão do título foi apresentada pelo IE e aprovada pela congregação em 4 de maio deste ano. Contou com a aprovação da comissão especial, formada pelos economistas Luciano Coutinho (presidente), Eros Grau e Leda Paulani.

Em sua fala no Consu, o professor Luciano Coutinho disse que a comissão identificou quatro grandes razões para aprovar a entrega do título honorífico a Belluzzo. A primeira, disse ele, foi a intensa contribuição de Belluzzo enquanto economista político e pensador da tradição da economia política e das suas teorias a respeito do desenvolvimento do capitalismo contemporâneo.

“Baseado na contribuição de grandes pensadores, o professor Belluzzo sintetizou, com admirável capacidade, uma análise especialmente relevante para compreensão das diversas facetas, da instabilidade, das limitações, das mutações e transformações no capitalismo contemporâneo e de suas tendências – como a elevada concentração da riqueza, da renda, da exclusão e do acirramento de determinadas contradições no plano geopolítico –, que é o que nós temos visto de forma muito marcante nos últimos tempos”, argumentou.

O presidente da comissão especial lembrou também o papel exercido por Belluzzo na análise macroeconômica e das políticas macroeconômicas contemporâneas. Segundo Coutinho, “a clareza dessas contribuições é útil na discussão de políticas macroeconômicas, mormente aquelas relativas à questão da evolução do crédito, dos mercados de capitais, das moedas, das taxas de câmbio, especialmente nas economias desenvolvidas, com seus reflexos nas economias emergentes”, apontou.

O terceiro pilar importante, continuou o economista, foi a relevante participação de Belluzzo no debate público sobre as sociedades modernas. Para o colega, as reflexões de Belluzzo vão além da esfera estritamente econômica. “O professor Belluzzo é dono de grande erudição. Teve formação invejável em Ciências Humanas e Sociais. Foi bacharel em Direito, em Sociologia e pós-graduado em Economia, com base nos cursos especiais que a Cepal ofereceu no Brasil nos anos 80”, pontuou.

“Além disso, o professor faz incursões profundas na esfera da Filosofia, da História, da Sociologia, da Política e até da Psicanálise, o que lhe permite uma capacidade de reflexão a respeito da sociedade, com muita argúcia, e uma capacidade muito grande de identificação das diversas patologias sociais e políticas das últimas décadas”, avaliou Coutinho.

Formação de profissionais

Outro destaque do presidente da comissão especial foi para a importante contribuição de Belluzzo na formação de economistas e de profissionais de destacada atuação acadêmica. Ele lembra que o homenageado é responsável por dezenas de publicações em periódicos internacionais, que valeram um reconhecimento no dicionário biográfico internacional de economistas heterodoxos notáveis. “Ele tem o privilégio de estar entre os 100 mais notáveis economistas heterodoxos internacionais”, celebrou.


Homenagem faz jus à história

O diretor do IE, André Biancarelli disse que a homenagem faz justiça à história de Belluzzo. “Ele foi uma das pessoas responsáveis pela criação do Instituto de Economia, entendendo o desafio de montar um curso crítico, alternativo, com viés progressista, no momento mais difícil da ditadura militar no Brasil, com um conjunto de economistas com idade inferior a 40 anos na época. Foi uma obra acadêmica e intelectual notável e um feito político de grande envergadura e coragem. Além de ser um projeto intelectual ousado, exitoso e influente”, destacou o diretor.


Produção acadêmica expressiva

O reitor Antonio Meirelles lembrou que a produção acadêmica de Belluzzo é bastante expressiva em áreas como a economia política e a economia monetária e financeira. “Eu diria que ele é um dos principais teóricos da análise do capitalismo contemporâneo. É inspirado de uma forma muito criativa em grandes mestres”, definiu.

“Os seus livros sobre esses temas são enriquecedores, e eu os recomendo a todos. Outro aspecto importante é o papel que ele sempre teve no debate econômico e político em nosso país”, continuou o reitor. Meirelles disse, ainda, ter ficado orgulhoso pela representatividade

da comissão especial que avaliou o título ao economista. “É um orgulho ter uma comissão com esse destaque acadêmico e institucional”, comentou.

O pró-reitor de Desenvolvimento Universitário, Fernando Sarti, lembrou o papel fundamental de Belluzzo no processo que culminou na autonomia financeira das universidades paulistas. “Eu não tenho a menor dúvida de que a qualidade das universidades estaduais paulistas se deve, fundamentalmente, à nossa autonomia financeira, e todos nós aqui sabemos a importância da participação do professor Belluzzo nessa luta”, afirmou o pró-reitor.


Carreira política

Luiz Gonzaga Belluzzo foi secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda (1985-1987) durante o governo de José Sarney e, de 1988 a 1990, foi secretário de Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo durante a gestão do ex-governador Orestes Quércia. Foi consultor pessoal de economia do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Fundou a Facamp (Faculdades de Campinas), juntamente com os economistas João Manuel Cardoso de Mello, Liana Aureliano e Eduardo da Rocha Azevedo. Recebeu ainda o Prêmio Intelectual do Ano Prêmio Juca Pato de 2005.