Eugenia Troncoso Leone
TEXTO PARA DISCUSSÃO
A evolução da força de trabalho feminina no Brasil, entre os anos 70 e 90, revelou a intensidade e a constância do seu crescimento, apesar das dificuldades enfrentadas pelas mulheres em se incorporar e permanecer no mercado de trabalho nos diversos contextos econômicos vivenciados pelo país. Na década de 70 o aumento da participação feminina na atividade econômica foi excepcional e continuou intenso nas décadas de 80 e 90. Nos anos 70 e 80 destacou-se o aumento da participação da mulher adulta em simultâneo com elevadas taxas de participação dos homens jovens provocando um ritmo de crescimento muito forte da população economicamente ativa (PEA). Nos anos 90 diminuiu a participação dos jovens e o aumento da participação da mulher adulta impediu a diminuição da taxa de participação total da PEA.
Nos anos 2000 o aumento da taxa de participação feminina perde força, mas as mulheres deram continuidade ao processo de consolidação de sua participação melhorando a qualidade de sua inserção na atividade econômica, ao reduzir a taxa de desemprego, bem como a participação do trabalho não remunerado e do emprego doméstico na ocupação feminina.
Nos anos 2000, notadamente entre 2004 e 2013, o país vivenciou um período de crescimento econômico com melhora da distribuição de renda, reativando o mercado de trabalho e provocando um intenso aumento do emprego em estabelecimentos. Esse crescimento da economia foi acompanhado por um forte aumento no valor real do salário mínimo, bem como uma intensa formalização das empresas e dos contratos de trabalho, ajudando a elevar a renda das famílias, principalmente daquelas famílias com menores níveis de renda contribuindo, assim, para diminuir as diferenças de renda entre as famílias.
Nesse contexto de aumento dos níveis baixo e intermediário de renda familiar o ritmo de aumento da participação das mulheres adultas perdeu intensidade e a tradicionalmente elevada participação dos jovens na atividade econômica continuou a diminuir, enquanto os homens adultos apresentaram uma suave queda de participação. Como consequência, houve uma importante queda na taxa de participação total da população com idade ativa (PIA), aspecto marcante do mercado de trabalho no período de crescimento econômico com melhora da distribuição de renda (Baltar; Leone, 2015).
O arrefecimento do aumento da participação das mulheres adultas em um contexto de crescente atividade da economia foi um fenômeno novo no Brasil (Alves, 2016; Barbosa, 2014; Corseuil; Franca, 2015; Wajnman, 2016).
A hipótese deste artigo é que um número significativo de famílias de baixa condição socioeconômica não teve como aproveitar as oportunidades de emprego que foram criadas no período de crescimento econômico e a renda dessas famílias continuou relativamente baixa. Essas famílias conseguiram usufruir apenas dos esquemas de transferências de renda delineados pelo Governo para suavizar as manifestações de pobreza da população mais carente.
A expansão do emprego formal, o aumento do valor do salário mínimo e os reajustes salariais das categorias profissionais maiores do que a inflação (entre 2004 e 2013) foram fatores que contribuíram para elevar a renda das famílias com membros adultos em condições de participar da atividade econômica. A renda dessas famílias era baixa, em 2004, não somente pelas dificuldades de participação na atividade econômica, mas também devido ao elevado desemprego, muita ocupação informal e baixa remuneração, inclusive no próprio emprego formal. O crescimento com melhora da distribuição de renda, entre 2004 e 2013, modificou essa situação, mas permaneceram com renda muito baixa as famílias com problemas específicos para participar da atividade econômica, notadamente as mulheres adultas dessas famílias.
A participação das mulheres adultas já é bastante elevada no caso das famílias com um mínimo de condição socioeconômica para participar da atividade econômica. Assim, este artigo procura mostrar que a continuação do aumento da participação feminina adulta no Brasil requer a elevação do baixo nível socioeconômico que ainda atinge uma proporção significativa das famílias brasileiras.
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Foto: Ascom/MDS