Nota de repúdio

O Instituto de Economia da Unicamp manifesta publicamente o seu repúdio aos ataques cibernéticos de radical intolerância que acometeram sua comunidade no último mês. Durante quatro de nossos eventos, as salas foram violentamente invadidas por usuários, ainda não sabemos se reais ou virtuais, que, sistematicamente, buscaram interromper as falas com áudios, veiculação de imagens pornográficas e mensagens aludindo à campanha eleitoral de 2022.

Os eventos que sofreram ataques discutiam problemas estruturais da sociedade brasileira e de sua formação histórica, como respeita a tradição dentro do Instituto de Economia: Pandemia e reconversão industrial: propostas e experiências, debate entre os professores Elias Jabbour e Marco Antônio Rocha; O pensamento político negro no Brasil e a contribuição de Florestan Fernandes, seminário dado pela professora Edilza Correia Sotero; Subdesenvolvimento e desigualdade raciais: dialogando com Celso Furtado, seminário dado pelo professor Elias de Oliveira Sampaio; História Global da escravidão e do capitalismo, aula aberta do curso de pós-graduação, que tinha como convidado o professor Rafael de Bivar Marquese.

As investidas cibernéticas não se voltaram, no entanto, somente contra os temas, mas procuraram atingir diretamente palestrantes e participantes que, fazendo parte de grupos tradicionalmente excluídos da sociedade brasileira, ali demonstravam estar plenamente empoderados de seus lugares de fala.

Ao mostrar sua indignação ao público, o Instituto de Economia também chama a atenção para o caráter autoritário, e mesmo totalitário, desses ataques cibernéticos. Eles vêm acontecendo de maneira orquestrada e em um crescendo de sofisticação que exige, da parte da universidade e das instituições jurídicas, medidas que garantam ao docente um espaço de trabalho que seja seguro, democrático e diverso.