Fernando Nogueira da Costa[1]
Nas seguidas experiências didáticas, dentro do curso sobre Métodos de Análise Econômica, acrescentamos a economia aplicada e o uso de indicadores macroeconômicos. Antes já tínhamos apresentado a estratégia social-desenvolvimentista com a política social ativa e os investimentos em economia do petróleo.
Fizemos reflexões sobre a história do financiamento do desenvolvimento da economia brasileira para avaliar o potencial do capital de origem trabalhista no capitalismo de estado neocorporativista no Brasil. Contrapusemos o conceito de funding (composição passiva de financiamento) à ideia ortodoxa de necessidade de poupança prévia ao investimento.
Enfrentamos o debate com a ortodoxia sobre poupança: por que é tão baixa na economia brasileira? Ora, desde que ela se tornou rastejante, pelos curtos voos-de-galinha, abatidos em plena decolagem pela política de stop-and-go da Autoridade Monetária, o ritmo de crescimento da renda não supera muito a evolução do padrão de consumo dos brasileiros tão diversos entre si. É simples assim.
Mas creio que o curso ficou mais “redondo” quando o tornei mais prático, focalizando métodos e instrumentos de análise de conjuntura econômica através de indicadores de instituições nacionais e multilaterais. Baseie-me na experiência que obtive quando, no início de minha carreira profissional (1978-1985), trabalhei por sete anos no IBGE, para transmitir meu conhecimento de fontes de informações e uso de banco de dados.
Desta feita, a ideia adotada foi buscar a simplicidade na complexidade de grandes planilhas de dados: usar big data. Treinar os alunos tanto na pesquisa de fontes de informações, quanto na apresentação profissional, seja em PowerPoint, seja em Prezi, dos resultados de pesquisas empíricas. Eles aprendem a organizar, conceitualmente, os dados e as informações, levantar hipóteses e as testar, confirmando-as ou descartando-as, com evidências.
Na primeira parte do programa – cerca de 1/3 do curso –, continuo com aulas expositivas apresentando os diversos métodos e instrumentos de análise de conjuntura econômica. Apresento os métodos de partição da realidade entre Ciência Econômica e Ciências Afins: Política, Sociologia e Psicologia. Sigo com Economia Comportamental, mostrando as relações de retroalimentação entre indivíduos e sociedade através da comparação do holismo com o individualismo metodológico.
É fundamental ao economista bem formado diferenciar entre o método abstrato-dedutivo e o histórico-indutivo. São, respectivamente, os métodos dos racionalistas e empiristas, base de todo o debate na história da Filosofia ocidental.
O aluno aprende a metodologia econômica em três níveis de abstração e a evolução de correntes do pensamento econômico. A partir dessa metodologia, consegue visualizar as relações entre decisões microeconômicas – decisões de preços face a custos, estrutura de mercado, lucro, etc.; decisões de produção; decisões de gastos em consumo, investimento e gasto governamental; decisões de exportação ou importação, tomada de empréstimos internacionais ou pagamento de dívidas, etc. – e resultantes macroeconômicas: inflação; desemprego; ciclo e tendência do crescimento em longo prazo; déficit no balanço de pagamentos e crise cambial.
Os alunos me dizem que, finalmente, conseguem “juntar as coisas” que aprenderam durante todo o curso da graduação. A maior novidade, para eles, é o aprendizado da Economia da Complexidade, isto é, os fenômenos emergentes a partir das interações das decisões e/ou componentes de um sistema complexo.
Com visão holística, partem da análise da complexidade teórica para ponderar as decisões práticas de política econômica democrática. Distinguem o dilema entre adotar de regras permanentes ou tratar os problemas conjunturais com ações discricionárias. Aprendem quais são as variáveis-instrumentos (política fiscal e de tarifas, política monetária e de juros, política cambial e de controle de capital) e as variáveis-metas (desemprego e renda do trabalho, inflação e renda do capital, balanço de pagamentos).
A ideia-básica é o futuro economista deixar de usar apenas “argumento de autoridade”, fidelizando-se a alguma corrente de pensamento econômico e passando apenas a louvar seus gurus. Partir da Economia Pura para ir à Economia Aplicada exige saber construir e usar os indicadores estatísticos para pensar por conta própria.
Deve ser trivial para o profissional formado no IE-UNICAMP analisar as condições macroeconômicas domésticas, tanto a oferta agregada (estrutura produtiva; nível de utilização da capacidade produtiva; nível de escolaridade da força de trabalho; nível de emprego; produtividade; custo unitário do trabalho), quanto a demanda agregada (consumo das famílias; gastos governamentais; formação bruta de capital fixo; absorção interna e exportações líquidas; vendas ao varejo; endividamento e confiança dos consumidores), através dos citados indicadores.
Para tanto, a turma é dividida em grupos de alunos para, na sala de informática, pesquisar todas as fontes de informações, cujos links coloquei no Programa do curso no meu blog: Métodos de Análise Econômica 2017. Dividem o trabalho de pesquisa na primeira metade da aula e na segunda expõem seus achados para os colegas. Daí cada grupo apresenta um tema componente de um todo unificado por uma questão-chave: como a taxa de juro, variável-central arbitrada discricionariamente, impacta o tema em questão?
São os seguintes temas: política fiscal e dívida pública (necessidade de financiamento do setor público; carga tributária; dívida mobiliária federal; dívida líquida e bruta do setor público); inflação; política monetária, agregados monetários, operações de crédito e taxas de juros; sistema bancário, sistema de pagamentos brasileiro, organização do sistema financeiro nacional e inclusão financeira; bancos; mercado de capitais; economia mundial; relações comerciais e financeiras externas; indicadores sociais (aspectos sócio-demográficos, educação e trabalho); desigualdade social (distribuição de renda; domicílios e/ou riqueza imobiliária; riqueza financeira).
À parte esse conteúdo, o mais interessante é o aprender a fazer, isto é, onde obter informações estatísticas, como processá-las, e depois apresenta-las sob forma de gráficos dinâmicos. A geração audiovisual, que vive navegando pela rede social em seus inteligentes celulares, agrega inteligência quando se inspira em sites como o Gapminder for a fact-based world view (https://www.gapminder.org) do Hans Rosling, talvez o melhor palestrante TED, ou Our World in Data, que também apresenta tabelas dinâmicas, mostrando a(s) corrida(s) ao longo do(s) século(s) dos diversos países. Explora a evolução contínua da civilização humana através da pesquisa e visualização de dados. Isto sem falar no The World Factbook: CIA – The World Factbook com estatísticas relativamente atualizadas e comparativas entre todos os países do mundo.
Há um verdadeiro treinamento em planilhas de cálculo, com a organização conceitual de dados e informações, e na apresentação oral dos resultados de pesquisas empíricas. Partimos do treinamento em Office: Cursos à Distância. Daí vamos enfrentar o desafio de usar Power BI, fazer cálculos e gráficos feito a partir de big data com Tableau, e finalmente, apresentação em Slides do Google ou Prezi.
Tudo isso é muito desafiante para mim, um baby-boomer de terceira-idade, mas “o bonito da coisa” é que há, naturalmente, uma troca de conhecimentos com a Geração Y. Eu dou “dicas de experiente profissional”, os estudantes me ensinam atalhos (shortcuts) que abreviam muito meu tempo de tentativas-e-erros, ou seja, “fuçar” os programas/aplicativos como todos eles aprenderam sem medo de errar... e estragar.
Por exemplo, fique felicíssimo quando descobri que poderia “travar células” (A$1$), para calcular relativos, apenas com a tecla F4! Ganhei produtividade!
Outro aprendizado que tive: a capacidade de analisar muitos dados rapidamente. As Tabelas Dinâmicas são a maneira de resumir, analisar, explorar e apresentar os dados, sendo possível criá-las com apenas alguns cliques. O botão Análise Rápida aparece no canto direito inferior da seleção. Clique nele ou pressione Ctrl+Q. Na guia Formatação, mova seu mouse em diferentes opções para ver uma Visualização Dinâmica de seus dados e selecione a formatação que mais gostar. Experimente as outras opções e veja como a vida fica mais fácil para você!
Para encerrar, na avaliação do curso que faço, indiretamente, solicitando aos alunos auto avaliação (“resenha”) de o que sabiam antes, o que é o curso, o que aprenderam e o que sentiram falta de aprender, vários sugeriram a antecipação desse curso para antes da elaboração da monografia. O início da vida de pesquisa ficaria mais fácil para eles!
[1] Professor Titular do IE-UNICAMP. Autor de “Brasil dos Bancos” (2012) e “Bancos Públicos no Brasil” (2016). http://fernandonogueiracosta.wordpress.com/ E-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo..