Juliana Bacelar de Araújo | Orientador: Paulo Eduardo de Andrade Baltar
O objetivo desta Tese é o de analisar os impactos do padrão de crescimento com inclusão social experimentado pelo Brasil na primeira década do século XXI no comportamento do mercado de trabalho e da desigualdade, a partir de uma análise multidimensional, colocando foco especial no que se passou na região Nordeste e sub-regiões selecionadas dentro dessa macrorregião.
Defende-se que, a partir da consolidação do processo de integração produtiva verificado no país, o PIB do Nordeste passou a acompanhar de perto o movimento cíclico da dinâmica econômica nacional e tendeu a apresentar taxa de incremento um pouco maior do que a média do país nas fases de expansão e taxa de retração menor nos momentos de crise.
Neste estudo, busca-se também explicar por que o padrão de crescimento que foi vivenciado recentemente pelo Brasil beneficiou especialmente a região Nordeste, mesmo que se observem importantes diferenças intrarregionais. Aliás, a leitura em várias escalas territoriais dentro do Nordeste é uma das contribuições da análise realizada, posto que permite considerar a heterogeneidade dessa macrorregião. A persistência de importantes diferenças intrarregionais também será um dos focos da interpretação aqui realizada. Demonstra-se que o padrão de crescimento com inclusão social observado ao longo dos anos 2000 afetou positivamente o Nordeste, através da dinamização da atividade econômica e do mercado de trabalho, além do incremento da renda advindo das políticas públicas setoriais e, em especial, sociais, implementadas pari passu a importantes transformações demográficas observadas no país e que também foram sentidas na região.
Nesse contexto, houve redução da desigualdade intrarregional principalmente nos indicadores de mercado de trabalho, renda e demografia entre 2000 e 2010. Ampliou-se o acesso a bens de consumo, com popularização de alguns itens, mas também com aumento das disparidades intrarregionais. Destaca-se que esse modelo também apresentou limitações, principalmente no que se refere à desigualdade nas condições dos domicílios e no acesso a bens públicos.
Em termos educacionais, observam-se evoluções positivas, mas permanecem importantes disparidades intrarregionais. A melhora de grande parte dos indicadores médios em todas as dimensões não se traduziu em uma transformação da condição desigual entre estados, microrregiões e os municípios do Nordeste, sobretudo no que se refere às áreas rurais dos pequenos municípios (até 100 mil habitantes). Isso ocorre tanto porque alguns indicadores mostram um aumento da desigualdade, quanto pelo fato do patamar de grande parte deles ainda ser relativamente bastante elevado. Maranhão, Piauí e Alagoas continuam possuindo a maioria dos piores indicadores estudados. Bahia e Paraíba também se sobressaem negativamente em alguns indicadores, mas em menor intensidade.
O Nordeste rural permanece ainda muito atrasado. Esses traços se refletem na análise por microrregiões, onde se verifica que as áreas piores posicionadas em termos de desigualdade multidimensional permanecem sendo aquelas situadas em microrregiões com baixo grau de urbanização e maior incidência do trabalho agrícola e localizadas nos Estados do Maranhão, Piauí, Paraíba, Alagoas e Bahia. Apesar da melhoria de vários indicadores sociais e econômicos observada ao longo dos anos 2000, a histórica heterogeneidade do tecido produtivo regional reafirma-se.
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