Gabriela dos Santos Eusébio | Orientação: Rodrigo Lanna Franco da Silveira
A relação entre desenvolvimento do sistema financeiro e crescimento econômico tem sido o foco de diversos estudos desde os trabalhos de Schumpeter (1911) e Robinson (1952). Quando a análise se estende ao setor agrícola, diversos estudos se debruçam a analisar o papel do crédito sobre o desenvolvimento rural, principalmente em países em desenvolvimento, onde o setor apresenta papel relevante para a economia do país.
No Brasil, poucos estudos avaliaram os efeitos diferenciados do crédito sobre pequenos e grandes estabelecimentos, principalmente baseados em microdados. O objetivo desse estudo é analisar o impacto do crédito rural no desempenho econômico dos estabelecimentos agropecuários no Brasil. Para tanto, a análise divide-se em dois grupos de agricultores, familiares e não familiares.
Para o grupo de agricultores familiares, foi mensurado o impacto do PRONAF na produção desses produtores, nas grandes regiões brasileiras. Utilizando as informações dos microdados do Censo agropecuário de 2006, que abrange 4,1 milhões de agricultores familiares, considerou-se a obtenção de crédito de tal programa, controlando pelas características do produtor, da propriedade e do sistema de produção.
Os resultados encontrados no modelo de regressão linear múltipla demonstraram que o acesso ao crédito via PRONAF teve um impacto positivo de aproximadamente 21% sobre o valor da produção dos estabelecimentos, enquanto que a estimação do propensity score indicou que os agricultores que acessaram crédito via esse programa apresentaram um valor de produção superior, para todas as regiões, variando entre 10% e 25% superior em relação àqueles que não captaram empréstimos via programas do governo.
O efeito do crédito do PRONAF se mostrou menor nas regiões menos desenvolvidas do país, porém ele existe e é positivo. Nas regiões mais desenvolvidas do país, o PRONAF apresentou resultados relevantes sobre o valor bruto da produção. A análise do acesso ao financiamento entre os produtores não familiares no desempenho econômico desses estabelecimentos também se baseou nas informações dos microdados do Censo agropecuário de 2006, com informações para 796.422 estabelecimentos.
A estimação do modelo em dois estágios, considerando as relações de dupla causalidade entre crédito e produção agropecuária, indicou que o valor da produção, a área da propriedade, a localização dos estabelecimentos e as características socioeconômicas dos produtores estão entre os determinantes do acesso ao crédito. Adicionalmente, verificou-se que a obtenção de financiamento impactou positivamente a produção agropecuária, e a intensidade desse impacto variou conforme a fonte do crédito obtido, entre 63% e 213% superior em relação ao valor de produção médio de produtores sem acesso ao financiamento, e entre as diferentes regiões brasileiras
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