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Autor: Marcelo W. Proni, Raphael Brito Faustino e Leonardo Oliveira da Silva
"Vencer a Copa dentro de campo é uma missão. Mas também temos a obrigação de vencê-la fora dele. "(Presidenta Dilma Roussef, declaração em março de 2013, apud DELFIN, 2013, p.87).

"Tem de ter um legado. Um legado que pode ser tanto em um nível de utilizar a inireestruture que foi construids para os Jogos, que você possa utilizar também para as pessoas [... ]Acho que esse é um dos desafios, porque nós queremos trazer para o Brasil o maior legado possível dos Jogos Olímpicos, tanto no que se refere ao esporte quanto no que se refere à melhoria da infraestrutura e das condições de vida da população. Acho que esse é oprincipal. "(Presidenta Dilma Roussef, entrevista em julho de 2013, apud PRINCIPAL..., 2013).

No momento em que o Brasil se prepara para receber os mais importantes megaventos esportivos mundiais - a Copa do Mundo de Futebol 2014 e osJogos Olímpicos e Paralímpicos de 2016 no Rio de Janeiro -, a discussão acerca do papel do Estado e sobre os impactos e legados nas cidades-sedes, ou no País como um todo, dentre outros aspectos envolvendo a preparação para esses megaeventos, gera debates acalorados nos mais variados setores da opinião pública. Há especial interesse nos aspectos políticos e econômicos relacionados aos megaeventos, mencionados com frequência nos diversos meios de comunicação, especializados ou não. A capacidade de organizar eventos esportivos deste porte está sendo colocada à prova, mas também está sendo questionada a necessidade dos gastos públicos requisitados ou a sua prioridade, considerando-se os custos de oportunidade envolvidos e o fato de se tratar de uma nação ainda marcada por extrema desigualdade e baixa qualidade na oferta de serviços públicos.

Neste contexto, o presente livro tem como propósito central oferecer uma reflexão critica referente às análises sobre os impactos e legados esperados (ou prometidos) da realização destes dois megaeventos no País. Para tal, a argumentação procura combinar a apresentação das proposições mais relevantes encontradas na literatura especializada com a discussão sobre as projeções que têm sido divulgadas para legitimar a participação fundamental do Estado brasileiro nestas iniciativas.

A Introdução busca mostrar que existe um referencial teórico em construção, que contempla os aspectos econômicos e as variadas possibilidades de análise dos impactos e legados de um megaevento esportivo. Este capítulo introdutório não pretende reproduzir exaustivamente as diferentes metodologías que têm sido adotadas para analisar os efeitos imediatos e os de longo prazo, os impactos primários e secundários, os legados tangíveis e intangíveis. Pretende apenas evidenciar as conclusões divergentes entre as estimativas ou projeções elaboradas anteriormente e as avaliações efetuadas posteriormente aos megaeventos, para assim estabelecer algumas referências para a reflexão proposta. Por se tratar de um campo de estudo relativamente novo, estão sendo testadas distintas metodologías de análise, o que vem ampliando o leque de abordagens sobre o tema.

A Parte I trata especificamente da Copa do Mundo de Futebol e está dividida em três capítulos. O Capítulo 1 apresenta uma análise dos impactos econômicos das duas últimas edições, ocorridas na Alemanha e na África do Sul, respectivamente. Procura-se demonstrar que a Copa do Mundo pode acarretar impactos diferenciados dependendo do grau de desenvolvimento econômico do país sede. Além disso, essas duas experiências oferecem uma base concreta para uma análise mais realista dos prováveis impactos deste megaevento no caso brasileiro.

O Capítulo 2 busca detalhar a preparação em curso para a realização da Copa do Mundo de 2014. Inicialmente, enfoca a estrutura organizacional responsável pelo planejamento e pelos preparativos para o megaevento, bem como aspectos referentes à legislação específica.

Em seguida, concentra o foco no volume de investimentos previstos em infraestrutura urbana e na construção de estádios. Em adição, menciona as medidas adotadas pelo governo federal para estimular o turismo.

As Considerações Finais apontam a importância das manifestações populares para o questionamento dos gastos exacerbados na construção e reforma de estádios para os dois megaeventos, assim como dos seus possíveis legados. Sem pretender oferecer conclusões definitivas, são ressaltados aspectos polêmicos enfatizados pela mídia nacional e, em seguida, são retomados os argumentos centrais do enfoque acadêmico.

Por exemplo, é preciso reconhecer que há conflitos de interesses legítimos e que as decisões de alocação de recursos públicos podem produzir "vencedores e perdedores", o que reforça a exigência de maior fiscalização e transparência. Também é preciso entender que os megaeventos esportivos não podem ser vistos como "panaceia" para problemas econômicos e sociais, como parecem acreditar alguns dirigentes e políticos, ainda que tenham contribuído para gerar um ambiente de otimismo e resgatar a confiança no desenvolvimento do País.

Em suma, o livro propõe uma discussão sobre os impactos de megaeventos esportivos que ultrapasse a análise técnica da viabilidade econômica ou da capacidade de organização, uma vez que parece claro que o Brasil é capaz de realízá-los, ainda que o planejamento e a execução demonstrem algumas dificuldades e insuficiências. Tomando como referência as proposições genéricas encontradas na literatura internacional e as avaliações disponíveis sobre as edições mais recentes da Copa e dos Jogos, confirma que é fundamental estimular um debate mais substantivo na sociedade brasileira sobre a realização desses megaeventos, com ênfase nos seus impactos econômicos e nas promessas de melhorias urbanas.