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Autor: Paulo Renato Costa Souza
Esta tese é o resultado de quase dez anos de trabalho sobre o tema; uma espécie de resumo de minhas conclusões. Nela, reconheço a contribuição de todos os trabalhos que realizei desde que “Don” Aníbal Pinto me incumbiu de escrever algumas páginas sobre os salários nas empresas públicas, como parte de um estudo que a Divisão de Desenvolvimento da CEPAL - Comissão Econômica para a América Latina – realizava no segundo semestre de 1970.

Logicamente isso tudo não foi premeditado ou planejado. Até meados de 1977 não me passava pela cabeça a possibilidade de retomar a vida acadêmica, sequer de continuar minha formação que havia chegado até o Mestrado realizado em 1969 e 1970, na ESCOLATINA, no Chile. Quando decidi deixar as Nações Unidas e regressar ao Brasil em fins de 1977, já tinha grande parte do trabalho “braçal” realizada sob a forma de papers, artigos e relatórios do PREALC – Programa Regional do Emprego para a América Latina. Era uma espécie de “quebra-cabeças” desarmado, conjunto de membros e órgãos de um corpo ainda desarticulado. O problema é que não sabia como armá-lo, apesar de contar com boa parte das peças de que necessitava.

Tampouco foi planejada a maneira pela qual fui construindo cada um desses pedaços. Nos primeiros anos de trabalho no PREALC, nos dedicamos a uma espécie de “mapeamento” estrutural da situação do emprego na América Latina, deixando de lado eventuais preocupações teóricas e evitando prudentemente as políticas sobre a marginalidade, que tinham tido seu auge no fim da década anterior. Ao mesmo tempo em que contribuíamos com nova informação sobre as características do problema do emprego, do desemprego em vários países, Ernesto Kritz, Jaime Mezzera, Joseph Ramos, Sérgio Maturana, Michel Bouvier, Andrés Bianchi e eu nos “empapávamos” dessa mesma realidade.

Depois vieram os trabalhos mais importantes e específicos, já com alguma pretensão teórica, sobre o mercado de trabalho urbano, especificamente o seu segmento “informal”. Nesta etapa Victor Tokman e Emílio Klein foram meus parceiros indispensáveis.

Quando cheguei a Campinas em janeiro de 1978, trazia tudo isto na minha bagagem e mais um artigo sobre diferenciais de salários no Brasil, escrito em Princeton no ano anterior e um rascunho de uma tentativa de arrumação do “quebra-cabeças”.

A primeira providência foi submeter tudo à discussão com meus novos colegas em uma série de seminários. Vivi, então, uma das mais gratas experiências de minha vida profissional. Em primeiro lugar porque todos os que ali estávamos - Maria da Conceição Tavares, Luiz Gonzaga de Mello Belluzzo, João Manuel Cardoso de Mello, Maria Hermínia Tavares de Almeida, Claudio Leopoldo Salm, Paulo Eduardo Baltar e José Francisco Graziano da Silva – nos despojamos de preconceitos e nos jogamos com verdadeiro fair-play num processo de intensa e enriquecedora discussão. Como resultado, ninguém saiu do seminário exatamente com as mesmas ideias de quando havia entrado.

Em segundo lugar porque, afortunadamente, me encontrei com um conjunto de cientistas sociais de excelente nível teórico que, além disso, tinham uma proposta teórica própria. O “pensamento de Campinas” tinha já coberto algumas partes essenciais da teoria econômica, bem como tinha avançado bastante na formulação das especificidades do desenvolvimento capitalista “tardio”. Mais importante ainda, estas diversas partes sem dúvida guardam coerências e compatibilidade entre si. Uma das áreas ainda não exploradas era a de emprego e salários. Apesar disso estavam subjacentes em vários trabalhos alguns filões a serem seguidos.

Neste clima decidimos organizar um programa integrado de pesquisas sobre o mercado de trabalho no Brasil, em torno do qual nos aglutinamos os professores e os alunos interessados na matéria. Como produto de tudo isto e dos cursos que frequentei no programa de doutoramento na UNICAMP pude, finalmente, chegar a armar meu “quebra-cabeças”. A presente tese tem justamente esse caráter: de armar e articular minha concepção sobre o funcionamento do mercado de trabalho, especialmente o urbano, no caso específico das economias atrasadas.

Além de todas as pessoas que já mencionei acima, devo anotar as valiosas contribuições que recebi de Wilson Cano, Mário Possas, Sérgio Silva e Paulo Vieira da Cunha. Na equipe de pesquisa sobre o mercado de trabalho recebi contribuições de muitas pessoas, mas quero destacar especialmente aqueles com quem mais diretamente trabalhei: os pesquisadores Gustavo Zimmermmann, Laís Abramo e os alunos estagiários Cinthia Costa Neves, Sven Blickstad, Frank Osaka, Jorge Nicolau e Paulo de Oliveira Gonçalves. Cândida Maria Teixeira foi eficiente, como sempre, na datilografia da presente versão.

Devo acrescentar um agradecimento especial ao Programa Nacional de Pesquisa em Economia – PNPE – administrado pelo IPEA. Dentro dos critérios vigentes até fins de 1979, este Programa deu o apoio financeiro necessário para a realização do Programa de Pesquisas sobre o Mercado de Trabalho no Brasil, pelo DEPE, sem o qual teria sido impossível a sua realização, bem como a elaboração da presente tese e de três ou quatro mais que vêm a caminho.

Antes de “entrar na matéria”, contudo, não posso deixar de destacar meu profundo e especial reconhecimento a duas pessoas que foram particularmente importantes na minha “reciclagem” acadêmica e na conformação das ideias centrais da presente tese. Refiro-me a Luiz Gonzaga de Mello Belluzzo, meu orientador, e a Maria da Conceição Tavares. Os méritos da presente tese devem ser creditados a nós três; os defeitos ficam por minha conta.

Atlântida, RS, janeiro de 1980.