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Alex Wilhans Antonio Palludeto
Giuliano Contento de Oliveira
Simone Deos

O livro que agora o leitor encontra à disposição é fruto de um esforço coletivo realizado pelos professores e pesquisadores ligados ao Centro de Estudos de Relações Econômicas Internacionais (Ceri), do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (IE/Unicamp), e compreende uma seleção de artigos e ensaios sobre temas diversos vinculados à Economia Política, Economia Política Internacional, Macroeconomia, Economia Monetária e Financeira, entre outras áreas. Trata-se do resultado de contribuições recentes de docentes e pesquisadores do Ceri, em parceria com pesquisadores e docentes de outros centros e núcleos de pesquisa, refletindo a sua diversidade e riqueza. Destarte, o amplo leque de questões e temas abordados nos capítulos que se seguem ilustra a rica abrangência e pluralidade que animam as reflexões de seus membros e parceiros de pesquisa1.

O livro está dividido em três Partes.

A primeira Parte, intitulada “Notas sobre o Capitalismo Contemporâneo”, compreende os dois primeiros capítulos e procura tecer algumas considerações sobre a estrutura e dinâmica do capitalismo atual, com particular ênfase às transformações que culminaram, a partir do fim do arranjo de Bretton Woods e da assim chamada “Era de Ouro” do capitalismo, na financeirização.

Nesse sentido, no Capítulo 1, denominado “Por uma Economia Política da Financeirização: Teoria e Evidências”, os autores José Carlos Braga, Giuliano Contento de Oliveira, Paulo José Whitaker Wolf, Alex Wilhans Antonio Palludeto e Simone Deos analisam a financeirização que marca o capitalismo contemporâneo em diálogo com a ampla literatura que tem se dedicado ao tema no período recente. O capítulo destaca que a financeirização deve ser concebida como um padrão sistêmico de riqueza, com as finanças cumprindo papel destacado na dinâmica econômica. Este capítulo é uma versão ligeiramente modificada, em língua portuguesa, de artigo publicado no volume 27 da revista Economia e Sociedade (IE/Unicamp), em 2017, com o título “For a political economy of financialization: theory and evidence”.

O Capítulo 2, por sua vez, intitulado “A Reconstrução da Ordem Capitalista sob a Hegemonia dos Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial” complementa a reflexão empreendida no capítulo anterior ao contribuir para a elucidação dos pilares dos “Anos de Ouro” do capitalismo global e de sua derrocada, abrindo espaço para o capitalismo financeirizado. Esse trabalho, de autoria de Victor Augusto Ferraz Young, corresponde a uma versão parcialmente modificada do primeiro capítulo da Tese de Doutoramento do autor, defendida no IE/Unicamp em 2018, com o título “O Governo de Ronald Reagan (1981-1989) e a Consolidação da Nova Ordem Econômica Internacional”.

A Parte 2 do livro, denominada “Experiências Econômicas Recentes e a Economia Mundial em Tempos de Pandemia”, compreende os Capítulos 3 a 7.

O Capítulo 3, de autoria de João Guilherme Marques Augusto Monteiro e Roberto Alexandre Zanchetta Borghi, dedica-se à reflexão sobre o conjunto de políticas macroeconômicas adotadas pelo governo chinês no período entre 2000 e 2019. Com o título “Políticas Macroeconômicas Chinesas no Período 2000-2019: Inflexões a partir da Crise Internacional de 2008?”, a análise apresentada no trabalho é realizada em três eixos: política monetária, política fiscal e política cambial. Caracterizam-se as principais mudanças ocorridas nos rumos dessas políticas ao longo das décadas recentes, em especial tomando como ponto de inflexão a crise internacional de 2008. Mostra-se que, por um lado, o conjunto de políticas se diferenciou do paradigma macroeconômico dominante no período e, por outro, que houve alterações importantes na condução dessas políticas, porém alinhadas às necessidades da economia chinesa.

No Capítulo 4, Diego Garcia Angelico e Giuliano Contento de Oliveira avaliam os principais estudos empíricos do mainstream economics acerca dos efeitos da globalização financeira para um conjunto de países nas últimas duas décadas. Intitulado “A Liberalização da Conta Financeira e os seus Efeitos sobre o Crescimento Econômico e a Instabilidade Financeira: Os Modelos Ortodoxos Ex-Ante Estavam Errados”, o trabalho aponta que os pressupostos teóricos convencionais sobre os potenciais benefícios dos processos de abertura financeira estão equivocados à luz dos trabalhos empíricos. Esse capítulo é uma versão em português de artigo publicado em 2020, no volume 40, número 4, da Revista de Economia Política, com o título “Capital account liberalization and its effects on economic growth and financial instability: the exante orthodox models were wrong”.

No Capítulo 5, intitulado “Respostas Econômicas à Pandemia de COVID-19: Experiências Internacionais Selecionadas”, os autores Alex Wilhans Antonio Palludeto, João Guilherme Marques Augusto Monteiro, Newton Gracia da Silva, Renan Ferreira de Araujo, Roberto Alexandre Zanchetta Borghi e Vítor Lopes de Souza Alves propõem mapear e sistematizar as principais medidas econômicas adotadas por um conjunto selecionado de países à pandemia de COVID-19. Desse modo, a partir da consideração de China, Estados Unidos, Alemanha, França, Reino Unido, Argentina e Brasil, o trabalho descreve as distintas respostas econômicas dos países, em volume e composição, apontando para o equívoco que constitui a concepção de que existe um trade-off entre medidas de combate à pandemia e desempenho econômico.

O Capítulo 6, por sua vez, elaborado por Ana Rosa Ribeiro de Mendonça, Marília Ceci Cubero e Joseli Fernanda Nappi, sistematiza e avalia as políticas monetárias e de crédito brasileiras no enfrentamento da crise econômica provocada pela COVID-19. O trabalho intitula-se “Medidas de Enfrentamento da Crise Econômica Gerada pela COVID-19 no Brasil em 2020: Uma Análise dos Efeitos sobre o Crédito” e, a partir do exame dos volumes empreendidos, dos formatos dos programas de apoio e de sua duração, avalia os impactos das medidas sobre o crédito, com destaque à relevância dos bancos públicos e dos instrumentos de crédito direcionado.

No Capítulo 7, Paulo José Whitaker Wolf demonstra a relevância dos sistemas de proteção social e sua forma de resposta no Brasil e em outros países no contexto da pandemia global. Intitulado “A Importância dos Estados de Bem-Estar Social diante da Pandemia de COVID-19”, o capítulo reflete sobre a importância dos mecanismos de intervenção do Estado em momentos nos quais o mercado, a família e outras formas tradicionais de provisão são incapazes de assegurar o atendimento das necessidades fundamentais de parcela expressiva da população. Nesse sentido, ênfase é dada aos mais relevantes componentes da política social no Brasil e em outros países.

A Parte 3 do livro, cujo título é “Repensando Paradigmas”, compreende os Capítulo 8, 9, 10 e 11 e é dedicada à reflexão sobre a necessidade contínua de revisitar contribuições e reavaliar os paradigmas que permeiam o campo da Economia diante das transformações do capitalismo global.

O Capítulo 8, cujo título é “Macroeconomia em Perspectiva: Da Crise de 2008 aos Desafios da COVID-19”, procura revisitar o pensamento macroeconômico convencional a partir da crise global de 2008. De autoria de Simone Deos e Ana Rosa Ribeiro de Mendonça, o trabalho mapeia as transformações recentes na macroeconomia convencional em âmbito internacional e no Brasil e apresenta uma avaliação crítica da mesma com base em uma perspectiva keynesiano-minskyana.

O Capítulo 9, por sua vez, sob o título “‘O Fim do Laissez-Faire’ a as ‘Possibilidades Econômicas para os Nossos Netos’: Lições de J. M. Keynes para o Século XXI”, apresenta uma reflexão sobre a relevância e atualidade do pensamento de John Maynard Keynes a partir de dois ensaios clássicos do autor. Giuliano Contento de Oliveira destacou, neste trabalho, a pertinência de políticas de distribuição da renda e riqueza no capitalismo, de políticas econômicas anticíclicas, da regulação do sistema financeiro e da administração dos fluxos internacionais de capital, da coordenação das decisões de investimento, de políticas orientadas para sustentabilidade ambiental e da governança econômica global. Além de o pensamento de Keynes continuar atual, reflexões realizadas a partir das obras deste brilhante economista são importantes e necessárias para lidar com os complexos desafios do capitalismo contemporâneo.

O Capítulo 10, cujo título é “Modern Money Theory: Ascensão no Cenário Internacional e Debate no Brasil”, de autoria de Simone Deos, Olívia Bullio Mattos, Fernanda Ultremare e Ana Rosa Ribeiro de Mendonça, procura apresentar os principais elementos teóricos da Modern Money Theory (MMT) e, ao mesmo tempo, refletir sobre o debate recente sobre essa abordagem. Em particular, a recepção e difusão da MMT no Brasil é explorada pelas autoras. Esse capítulo é uma versão em português de artigo publicado em 2021, no volume 41, número 2, da Revista de Economia Política, com o título “Modern Money Theory: rise in the international scenario and recent debate in Brazil”.

O Capítulo 11 é de autoria de Adriana Nunes Ferreira, Alex Wilhans Antonio Palludeto, Simone Deos e Paulo Sérgio Fracalanza. Os autores partem da identificação da crise sistêmica que atravessamos para, a partir do rico repertório oferecido pelas reflexões no campo da Economia Política do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas, apontar para o necessário aprofundamento da reflexão crítica que marca essa tradição. Nesse sentido, o capítulo, intitulado “Por uma Agenda em Economia Política”, destaca a pertinência de apropriar-se de um extenso conjunto de produções acadêmicas recentes que se debruçam sobre as crises contemporâneas, em particular associadas à antropologia econômica, à reprodução social capitalista e à questão ambiental.

Na posição de organizadores deste volume, em nome dos autores, agradecemos a Paulo José Whitaker Wolf, Renan Ferreira de Araujo e Vítor Lopes de Souza pela leitura e pelo auxílio inestimável no processo de revisão dos manuscritos, os eximindo de quaisquer equívocos remanescentes que possam existir, evidentemente. Agradecemos também ao empenho e à dedicação da Direção do IE/Unicamp e de todos os docentes, funcionários e alunos de nossa instituição que tornaram possível esta publicação. Por fim, mas não menos importante, queremos deixar registrado nosso profundo agradecimento ao Prof. José Carlos Braga pelo convívio fraterno e pelo estímulo intelectual permanente que tem nos oferecido ao longo desta caminhada.

Boa leitura!