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Lucas Teixeira
Pedro Paulo Zahluth Bastos

O Centro de Estudos de Conjuntura e Política Econômica (Cecon) do IE-Unicamp participa do diálogo acadêmico e do debate público sobre a evolução conjuntural da economia brasileira, a política econômica, e as mudanças estruturais do capitalismo no Brasil e no mundo há mais de trinta anos. Neste período, a economia brasileira e seus problemas mudaram, mas a presença persistente da crise, em diferentes formas, desafiou a capacidade analítica de pelo menos duas gerações de pesquisadores do Cecon.

Este livro reúne artigos escritos desde 2017, quando ficava evidente para um público mais amplo o que sempre alertamos: que a “fada da confiança” não existe. Ou seja, que reformas neoliberais e políticas de austeridade monetária e fiscal não estimulam expectativas empresariais nem restauram condições de oferta a ponto de compensar seu impacto conjuntural e estrutural negativo sobre a demanda agregada. Inúmeras vezes, precisamos reafirmar que reduzir o investimento público, o gasto social, aposentadorias, impostos sobre os ricos, salários, empregos e direitos dos trabalhadores não apenas ameaça de morte o contrato social da democratização e, é cada vez mais claro, a própria democracia. A austeridade também inviabiliza o próprio crescimento econômico que professa restaurar.

Para entender o problema, é preciso tratar o capitalismo contemporâneo nas suas diversas dimensões e temporalidades. Não pretendemos ter abordado todas elas, mas sabemos que a análise de conjuntura não pode prescindir do entendimento das mudanças estruturais e do esforço de historicizar os conceitos, isto é, de usar criativamente os recursos teóricos da tradição de reflexão crítica realizada no IE-Unicamp para entender a estrutura econômica nos momentos de reprodução e mutação, ou nos movimentos de conjuntura. Neste sentido, a produção acadêmica do Cecon tem caráter multifacetado e, embora tenha por objeto último a economia brasileira, desenvolve-se nos planos teórico e da análise estrutural e conjuntural.

A estrutura do livro reflete tal diversidade ao dividir-se em quatro blocos. O primeiro bloco apresenta o modo como as pesquisas do Cecon utilizam os esquemas conceituais discutidos e ensinados no IE-Unicamp na análise, quase em tempo real, das dimensões e variações da conjuntura econômica brasileira. Neste sentido, foram selecionadas algumas das Notas de Conjuntura publicadas desde 2017, caracterizadas pela análise da economia e pela crítica às opções de política econômica desde 2015. Atenção especial é conferida aos impactos econômicos da pandemia do novo Coronavírus e às políticas de enfrentamento no Brasil e no mundo, que refletiram e aprofundaram o desastre provocado por mais de meia década de austeridade, ou seja, que agregaram um novo negacionismo a outro mais duradouro.

O segundo bloco desenvolve análises dos movimentos das estruturas: a relação entre os ciclos de liquidez global e a evolução do crédito doméstico, expressando o caráter multifacetado da dependência externa brasileira; a crise fiscal dos governos estaduais, dramaticamente afetados pelas políticas de austeridade em nível federal e vulneráveis a uma base tributária fortemente sensível ao ciclo econômico; e a nova cena política caracterizada pela emergência do Bolsonarismo como um dos polos organizadores da política brasileira.

O terceiro bloco abarca debates teóricos: a relação entre política fiscal, emissão de moeda e dívida pública, levando em consideração os debates ocorridos durante a pandemia; a determinação da taxa de câmbio; e as teorias estatais da moeda na perspectiva de uma crítica marxista. Finalmente, o quarto bloco apresenta novas agendas propostas por docentes do Cecon, além daquelas já conhecidas e apresentadas nos capítulos anteriores, que podem orientar pesquisas de pós-graduação e iniciações científicas na graduação.

Entendemos o livro como um convite para que os leitores, sobretudo estudantes, conheçam nosso esforço coletivo de reflexão, se aproximem e colaborem em breve para expandi-lo e melhorá-lo.

Boa leitura!